Existe uma Verdade a ser alcançada, descoberta, entendida, a Verdade por trás das leis da natureza, do cosmo, que não podem ser mudadas, a Verdade que pertence ao autor dessas regras. O pensamento livre pode nos levar até ela, sem dogmas humanos, através de uma reflexão sobre o que é imanente e transcendente; divino e humano e inclusive político e religioso, afinal, a realidade é apenas uma.
Hoje
não teremos postagem do Yahoo!Respostas e nem diálogo filosófico entre Leitor e
Pensador, mas algumas dúvidas que um irmão em Cristo enviou-me por e-mail. Resolvi
publicar suas questões, pois são, a meu ver, pertinentes ao nosso tempo e
podem, ainda, esclarecer a outros que talvez compartilhem dessas mesmas
dúvidas.
Estou
publicando nossas conversa com a devida autorização, mas o irmão preferiu ficar
anônimo.
Eis
as questões:
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Olá,
Christian!
Nestes
dias estava muito perturbado, sou Cristão, mas há pontos na Bíblia que não
consigo entender, mas ao ler seu texto (Deus também matou?), ajudou-me e esclareceu
muita coisa, mas ainda há pontos que não consigo compreender, como por exemplo:
quando Moisés mandou os Levitas matarem seus próprios irmãos por terem adorado
o bezerro de ouro, por que tiveram q pagar com a vida? Imagina uma situação
dessas hoje? Ou então ter que matar uma pessoa ou até mesmo um parente a
pedradas por ter apanhado lenha no sábado? Por que tanta violência? E as 42
crianças que foram despedaçadas pelas ursas por terem chamado o profeta Elizeu
de Calvo?
Quando
leio o Antigo Testamento fico chocado com tanta violência entre homens e também
animais.
Outro
ponto que não consigo entender é com relação aos sacrifícios de animais, até
entendo que aquele pobre e inocente animal estava pagando pelo pecado de um
homem para que talvez assim fazer o homem refletir e não mais cometer um pecado,
mas vejamos em Genesis 4, Deus se agradou mais da oferta de Abel que era a
gordura de um animal do que a de Cain que era fruto da terra, sendo que até
então aquela oferta não era para pagar nenhum pegado, nem mesmo existia Lei,
mas era somente uma oferta e Deus se agradou. Não tolero violência contra os
animais, gostaria de saber por que Deus se agradava com holocaustos,
sacrifícios de animais etc.
Não
é criação dele mesmo?
Grato!
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Olá, irmão!
Obrigado
pela leitura do texto e pela confiança em tirar algumas dúvidas comigo, espero
estar à altura dela.
Você leu
o texto “Deus também matou”, né? Então, vai ficar mais fácil explicar.
Imagine
uma pessoa que nunca viu computador na vida. Como você ensinaria Excel pra ela?
Você estaria falando grego, certo? Mas e pra uma pessoa que já conhece
computador, internet, Word e etc.? Seria bem mais fácil, não é?
Pra uma
pessoa que nada entende de determinado assunto, não adianta explicar o porquê
das coisas, você apenas diz o que ela deve fazer e só. O mesmo é com uma
criança pequena que quer brincar com uma faca, por exemplo. Não adianta
explicar pra uma criança de três anos que faca é perigosa, certo? Você apenas
tira a faca da mão dela e dá uma bronca. Ela passa a obedecê-lo por causa da
bronca, mesmo sem entender o que acontece.
Com o
povo do Antigo Testamento era a mesma coisa.
Nos
tempos de Moisés, como ficou claro no texto “Deus também matou?”, o povo NADA
sabia sobre tudo, nem Deus conheciam direito, a revelação de Deus havia acabado
de começar e eram um povo primitivo e bruto também (idade do bronze).
Como Deus
poderia explicar conceitos complexos para um povo assim? E qual a garantia de
que obedeceriam sem que houvesse uma bronca junto?
Nós
muitas vezes olhamos para o passado de acordo com o contexto em que vivemos
hoje e a partir de conhecimentos que adquirimos hoje também e pensamos que o
povo daquele tempo era igual a nós. Mas não eram, eram MUITO diferentes.
Já ouviu
falar que tomate podre apodrece todos os outros tomates na caixa? Pois bem, ao
povo de Israel foi dada a revelação de Deus, eles eram o povo escolhido para
esta missão até que a mensagem de Deus chegasse a Cristo e se completasse com
ele, por isso, esse povo não poderia se corromper e nem desviar do caminho. Se
aqueles que pecaram permanecessem no meio deles, então TODOS se corromperiam,
fato. E não havia como explicar as implicações espirituais disso e muito menos
sobre a salvação da humanidade através de Cristo e etc. Esse é um conhecimento
que nós possuímos, mas eles, não. Então, entre perder todo o povo e perder
alguns para que o resto fosse salvo, Deus preferiu perder alguns, pois era a
única alternativa viável naquele contexto.
Sobre o
sábado é a mesma coisa, pois a guarda do sábado fazia parte da lei de Moisés e
era a Lei que os mantinha vivos (sem se destruírem) e com Deus. A maior parte
das Leis era obedecida apenas por medo, o povo nem sequer sabia o motivo delas.
Para você ter uma ideia, eles tinham que defecar fora do acampamento e ainda
eram obrigados a enterrar as fezes após defecar. Hoje sabemos que isso é
saneamento básico, mas eles não tinham a menor ideia da razão de uma lei como
essa, eles não conheciam micróbios e etc.
A Lei é
útil pra quem precisa dela. E eles precisavam.
O rigor
de Deus, apesar de parecer excessivo, era o único meio de manter o povo na
linha para a salvação deles mesmos.
Para
entender melhor essa questão de Lei, sugiro dar uma olhadinha aqui. O texto é um pouco longo, mas vale a pena.
Em
relação a Elizeu e aos catorze rapazes, vale o mesmo princípio.
Já ouviu
a frase: “Se Deus sangrar, quem vai crer nele?”.
Elizeu
era a voz de Deus no meio do povo, por isso tinha que ser respeitado e não
foram apenas 2, 3 ou 4 crianças que o provocaram, mas foram 42 rapazes (nearim
hetanim) que o provocaram.
Não eram
crianças, mas uma grande quantidade de rapazes.
Então
vemos que era séria a coisa e não simples provocação, algo mais havia, com
certeza. Eles sabiam que Elizeu era profeta, mas o rejeitaram e morreram por
transgredir a Lei de Moisés e colocaram à prova a escolha de Deus para a
continuidade do Espírito de Elias sobre a terra.
Em
relação aos animais, Deus apenas deixa claro que existe uma diferença entre
eles e nós. Jesus morreu apenas por nós e apenas nós somos a imagem e
semelhança do Altíssimo. O cordeiro sacrificado também servia de alimento para
os sacerdotes e levitas, pois não é pecado comer carne. O sacrifício
simbolizava a nossa morte. O pecado devia nos matar, pois o pecador merece
apenas a morte. O cordeiro, então, simbolicamente morria no lugar daquele que o
ofertava, entende?
Jesus foi
o cordeiro de Deus e, assim como o cordeiro da Lei de Moisés, Jesus também
morreu em nosso lugar. Graças a isso é que temos a vida eterna.
O
sacrifício de Abel tinha o mesmo significado do sacrifício previsto na Lei, por
isso Deus aprovou. Abel ofereceu o cordeiro como se fosse ele mesmo. Ele
admitiu que era pecador e que precisava da misericórdia do Senhor. Não foi o
caso de Caim, por exemplo. E a prova acerca do coração maligno dele foi o fato
de ter matado o próprio irmão e de não ter se arrependido disso.
Deus não
tolera a crueldade contra animais, veja o que diz a Bíblia:
“O justo
tem consideração pela vida dos seus animais, mas as afeições dos ímpios são
cruéis.”. Pv 12.10.
Mas ele
dá preferência a nós, pois somos filhos dele, feitos a sua imagem e semelhança.
É isso.
Espero
ter ajudado.
Abraços,
Graça e
paz.
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Olá
Christian, Oh! Como estou me sentindo melhor agora e feliz, minha fé
voltou, tenha certeza que verdadeiramente Deus esta em sua vida e a guia
do Espírito-Santo está sobre ti, dou Graças a Deus por sua mensagem ter chegado
até a mim, percebi que vc está pronto em ajudar as pessoas, vou acompanhar seu
blog a partir de hoje e sinto, sim, confiança em tirar dúvidas com vc e, se não
se importar, vou tirar outras dúvidas com relação á Bíblia, pois minha mente
pequena me impossibilita de encontrar as respostas.
Com
relação ao assunto abordado, eu muitas vezes me perguntava o porquê de tanta
violência, guerras e crueldade na Bíblia me levando muitas vezes a
desacreditar, vejo q isto é motivo de escape para muitos, muitos são os ateus
por acreditarem q a Bíblia apresenta um Deus sanguinário, cruel e vingativo por
não compreenderem e também não darem espaço para compreender, mas hoje estou
chegando a seguinte conclusão (me corrija se tiver errado): que Deus trata com
o homem de forma progressiva, ou seja, de acordo com a época, cultura e
entendimento. No Antigo Testamento não poderia ser diferente, hoje temos um
mundo civilizado, temos as nações, mas não podemos esquecer que estas nações
foram conquistadas através de guerras no passado. Com Israel não poderia ser
diferente, pois o homem, assim como nos animais, buscava comida, espaço e
proteção. Deus estava lidando com um homem primitivo e que jamais entenderia
sobre espiritualidade, mas no tempo certo enviou seu filho que disse que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade.
"Mas
não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual" 1 Cor
15:46.
A Paz
esteja contigo.
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Olá, irmão!
Vejo que
compreendeu e fico feliz em saber que sua fé foi renovada. Glória a Deus!
Por que o Antigo Testamento tem tanta violência? Por que Deus era conivente com tantas mortes no Antigo Testamento e até mandava matar? Isso não é contra a Lei de Moisés dada pelo próprio Deus? Afinal, ela diz: “não matarás”, não é assim?
Muitos questionam o modo como a Bíblia descreve atos violentos, mas muitos, entre os mesmos que se espantam com isso, defendem a pena de morte (olho por olho), o aborto e etc. Não estou criticando o aborto, necessariamente, sei que os modernos fundamentalistas consideram pecado criticar o aborto e a homossexualidade, por isso, afirmo: não estou criticando ninguém. Estou apenas dizendo que o aborto é um tipo de morte, só isso.
Mas cada um lida com a morte conforme sua cultura, não é?
Matavam crianças naqueles tempos? O aborto de hoje, idem. Aliás, muitos vão além, pois, mesmo em nossos dias, é comum gente branca de classe abastada defendendo o fuzilamento de crianças de rua, por exemplo.
Nossa realidade não é muito diferente dos tempos antigos, apenas temos valores e métodos diferentes (além de muito mais hipocrisia), mas a violência é a mesma. Aliás, a violência é celebrada em nossos dias, afinal quem quiser uma boa briga e com muito sangue, basta assistir a TV. O que vemos na TV hoje em dia? Temos o MMA (Artes Marciais Mistas), Boxe, filmes do Stallone, animes japoneses e etc. Violência sangrenta a qualquer hora do dia e para todas as idades.
Hoje existem tecnologias que impossibilitam guerras como aquelas do passado, mas a quantidade de conflitos (e a capacidade de destruição), hoje em dia, é muito maior também. Hoje existem bombas atômicas e armas biológicas (vírus), por exemplo. A pena de morte que tantos defendem hoje em dia também é um ato violento (ou não é?). Entretanto, naqueles tempos, a violência era quase toda restrita às guerras, mas hoje é no próprio bairro em que vivemos, pois as drogas nos garantem uma generosa dose de violência e terror no cotidiano.
O ser humano é violento por excelência.
Entretanto, todos concordam que matar não é bom, é algo que deve continuar sendo proibido. Mas é essa proibição o problema, pois o ponto forte de nosso questionamento é o seguinte: Deus, no Antigo Testamento, mandou que seu povo matasse? Será que houve contradição em Deus quando ordenou que descumprissem um mandamento que ele mesmo havia elaborado?
Vejamos.
1. Homem primitivo.
Evolucionismo existe, fato! Darwin não estava errado, nem a Bíblia nega isso (quem quiser ler a respeito, por favor, acesse aqui). Também sabemos que animais brigam por território, fêmeas e comida, não é? Mas se eles tivessem a inteligência de um humano, deixariam de brigar por essas coisas?
Será?
Se somos frutos de uma evolução de espécies, então somos animais também, evoluídos, mas animais. Sendo assim, os primeiros humanos também tinham necessidade de território, comida e procriação, é a defesa desses princípios básicos que garantiram a sobrevivência de nossa espécie, e por consequência, nossa evolução. Apenas quem sobrevive evolui, pois possui descendentes.
Isso se chama Seleção Natural.
Sempre houve conflitos, e é graças aos primeiros conflitos que nos fortalecemos como espécie.
É duro constatar isso, é triste, é chato, sim é. Mas é um fato.
É difícil defender o evolucionismo e negar isso. Nós surgimos como humanos antes da civilização, logo, o homo sapiens não nasceu civilizado, mas tornou-se civilizado.
Trazemos em nosso corpo as características de nossos ancestrais até hoje, por isso que os homens são normalmente maiores e mais fortes fisicamente que as mulheres, pois foi feito pra lutar, caçar, garantir a sobrevivência de sua espécie no braço (várias espécies de animais também são assim, isso é comum no mundo natural). É por isso, também, que normalmente são os homens que gostam de ver lutas na TV e são a grande maioria dos fãs de Rambo e afins. Games, gibis, filmes, seriados voltados para o público masculino são violentos, tem que ser, entretanto, essas mesmas coisas, quando voltadas para o público feminino, são bem diferentes.
Isso são vestígios de nosso instinto de caçador e guerreiro, de quando a sobrevivência de nossa espécie era defendida no braço literalmente, quando ainda não havia civilização, ou seja, usando a linguagem bíblica, quando ainda éramos CARNAIS.
Carnal significa quando alguém não é regido predominantemente pela razão, mas em grande parte por instintos e desejos (como um bicho). A disciplina e controle do corpo e das vontades é que caracterizam uma pessoa evoluída.
Deus sabe de tudo isso.
Então, voltando a falar dos personagens bíblicos, como lidar com um povo primitivo, ignorante e semisselvagem?
A Bíblia, no início do Antigo Testamento, tem como objetivo principal ensinar princípios básicos de civilidade, o objetivo do Antigo Testamento não é discutir Nietzsche, Max Weber ou Platão, mas o bê-á-bá da civilização, ou seja, era ensinar o povo a se comportar como gente.
Olho por olho e dente por dente é a pena de morte que conhecemos (que muitos, aliás, desejam para os dias de hoje também) e é um princípio básico e primitivo de justiça que só poderia ser praticado e assimilado por um povo igualmente primitivo. Uma característica curiosa sobre o modo como Deus transmitia suas leis é a seguinte: ele não as explicava quando as transmitia, apenas mandava que fizessem assim ou assado e pronto, pois não havia como o povo entender a finalidade da maioria de suas leis.
Observemos uma mãe quando educa seu filho, ela cria inúmeras regras para que a criança siga, mas a criança não entende a maior parte dessas regras, apenas obedece, pois o mundo na mente de uma criança é bem mais simples.
A ideia no Antigo Testamento é a mesma.
O Antigo Testamento é Deus falando com crianças, apenas isso, ensinando-as a desenvolverem-se como pessoas civilizadas.
A humanidade era recente no mundo.
Olhe só algumas leis interessantes: Deus dizia que o povo não podia defecar no acampamento, mas fora dele e deviam enterrar tudo, por isso, andavam com uma ferramentinha para cavar amarrada à cintura (eles nem sabiam o porquê de uma proibição assim, mas obedeciam). Deus também dizia em qual período a terra deveria ser cultivada e o período que não deveria, inclusive dizia para mudar o tipo de cultura a ser cultivada, sendo em uma época um tipo de cultura e em outra época outro tipo de cultura. Sabemos que esses princípios na agricultura são usados até hoje, pois garantem o descanso da terra.
Assim, vemos que as leis de Deus tinham como objetivo principal garantir a sobrevivência do povo, sua saúde, alimentação e o básico de moralidade, por isso havia leis sobre saneamento básico, agricultura e uma ideia primitiva de justiça.
No mais, era o mesmo de sempre, guerreavam por terras, comida e procriação.
Porém isso é apenas na primeira metade do Antigo Testamento, quando observamos os livros dos profetas, por exemplo, então a complexidade dos ensinamentos começa a aumentar significativamente, sem mencionar livros como Eclesiastes, por exemplo, cuja complexidade confunde até erudidos modernos. Assim, os conceitos evoluíram e ampliaram-se até que, no Novo Testamento, a mensagem de Deus se completou.
Essa é a mais evidente diferença entre Antigo Testamento e Novo Testamento, pois no Novo Testamento os conceitos complicam-se bastante, os ensinamentos não são mais apenas “leitinho” (esse é um termo utilizado pelo apóstolo Paulo quando questiona os primeiros cristãos sobre a lentidão deles em assimilar o evangelho, ele diz que não podem viver pra sempre de leite, mas precisam de alimento sólido, também). Observe:
“Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois CARNAIS”. 1 Co 3.2
A prática do amor ágape pregada por Jesus é um conceito tão complexo que até hoje é difícil alguém que de fato entenda sua profundidade e abrangência.
Mas isso justifica tanta violência no Antigo Testamento? Violência nunca é justificada, mas o que esperar de um povo primitivo? Não é o mesmo hoje? No Antigo Testamento há apenas relatos de fatos reais, fatos históricos. É a realidade pela realidade, apenas isso.
Deus lida com o ser humano a partir da própria estrutura humana, o homem não é divino, por isso Deus lida conosco a partir daquilo que somos e nos mostra o que podemos ser. Deus age conforme o estágio evolutivo que estivermos também, seja físico, mental, moral ou espiritual. O conhecimento que Deus tem do ser humano é pleno, por isso ele age conforme nosso jeito de ser. É por isso que muitas de suas atitudes, mandamentos ou conceitos só podem ser entendidos agora (a evolução das espécies é um desses conceitos), pois só agora temos condições de entender por que Deus fez algumas coisas deste ou daquele modo. Entretanto, convém lembrar que o amor de Deus sempre esteve presente, mesmo no passado, mas a expressão desse amor era limitada pela capacidade de compreensão do homem daqueles tempos.
2. Seleção Natural na ação divina.
Guerras nos primeiros tempos nada mais eram que darwinismo explícito: Seleção Natural, a sobrevivência do mais forte ou do mais apto. Podemos ver no mundo animal que muitos machos quando assumem um harém, a primeira coisa que fazem é matar os filhotes de seu antecessor, pois se ele é o vencedor, o mais forte, então são seus genes que devem prevalecer na posteridade, o mesmo ocorre com alguns primatas.
No passado, vemos diversas vezes o vencedor de uma guerra, além de matar seus inimigos, matar os filhos destes, apenas as mulheres eram poupadas (às vezes nem elas).
Seleção Natural, só isso.
A Bíblia também contém relatos desse tipo, mas refere-se principalmente ao povo de Israel, mas no resto do mundo podemos observar que também havia essa “seleção natural”. Mas há algo curioso a observar: quando a Bíblia fala dos judeus, sempre mostra Deus interferindo a favor deles, mesmo quando matavam. Isso significa que aos judeus foi destinada uma evolução maior, por isso, deviam sempre viver?
Não, não é isso.
No caso dos judeus havia outro fator a ser considerado.
3. Deus faz distinção entre os povos?
Imagine uma guerra onde há certo general comandante de uma divisão, mas em dado momento, por ocasião dos combates, todos os meios de comunicação ficam indisponíveis (o general ficou sem e-mail, telefone, código Morse e etc.), mas ele precisa enviar uma mensagem muito importante ao presidente, pois descobriu algo que garantirá a vitória de seu país nesta guerra.
O que ele faz?
Ele usa um mensageiro, um militar de sua confiança. É evidente que ele não mandará esse mensageiro sozinho e desprotegido, pois caso faça isso, a mensagem não chegará ao seu destino e, pior, o inimigo poderá tomar posse dela. Por isso, a esse mensageiro é destinado uma escolta armada e bem treinada para protegê-lo.
A sobrevivência do mensageiro é que garantirá o fim da guerra.
O povo de Israel era o mensageiro, Deus é o general que pessoalmente deu a mensagem e também é o responsável pela escolta armada e bem treinada.
Essa mensagem devia chegar até Jesus e dele para todo o mundo, assim acabaria a guerra.
Acabou a guerra?
Ainda não, mas acabará.
Tem certeza?
Sim, mais adiante falaremos sobre isso.
Deus garantiu e vigiou o progresso de seus ensinamentos até que se completassem com Jesus Cristo. Deus escolheu um povo inteiro como depositário fiel de sua mensagem, não havia como atribuir a apenas um homem essa tarefa (óbvio), por isso escolheu um povo e o protegeu até que tudo estivesse pronto. Assim, após Jesus (e por causa dele), todos os que acreditam e aceitam essa mensagem (judeus ou não) também passam a serem depositários dela.
Hoje não é apenas o povo judeu o mensageiro, mas todos os que acreditam e aceitam a mensagem de Deus tornam-se mensageiros e, como tais, também gozam de sua proteção armada.
Observe o que diz o apóstolo Paulo em Gálatas 3.5-9:
“(...) É o caso de Abraão, que creu em Deus, e ISSO lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são FILHOS de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o EVANGELHO a Abraão: EM TI, SERÃO ABENÇOADOS TODOS OS POVOS. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.”.
Israel é descendente de Abraão pela carne, nós, gentios, também somos descendentes, mas pela fé. Todos os que creem são filhos de Abraão, pois a palavra evangelho significa: “boas notícias” e a boa notícia foi dada a Abraão quando Deus lhe disse: EM TI, SERÃO ABENÇOADOS TODOS OS POVOS.
Abraão e Isaque
No passado e no presente, Deus protege a todos que são dele e pela fé obtemos essa proteção (para entender melhor essa questão sobre fé, sugiro ler este texto).
Deus defende quem optou por ser dele voluntariamente (pela fé). Deus ajuda a quem o busca. Quando Israel pedia ajuda, Deus ajudava. O mesmo vale para qualquer um hoje, qualquer um que voluntariamente aceitou ser depositário de sua mensagem.
Por causa dessa proteção de Deus em relação ao seu povo, muitos questionam a morte dos primogênitos no Egito nos tempos de Moisés, quando o povo de Deus era escravo no Egito. De fato, foi um episódio triste, mas Deus, como sempre, defendeu seu povo, mas nunca teve a intenção de agir com violência, pois Moisés pediu amigavelmente ao faraó que libertasse o povo, mas o faraó disse não. Depois, através de Moisés, Deus mandou a primeira praga e novamente o pedido de liberdade e novamente a negativa do faraó. O mesmo ocorreu com a segunda praga, com a terceira e sucessivamente. Deus deu ao faraó nove chances, nove avisos, nove pedidos de liberdade. A décima praga foi a gota d'água, o recurso extremo diante da dureza do coração de faraó. Foi uma medida drástica, porém necessária. (Êxodo cap. 7 ao 15).
Mas não foi Deus quem endureceu o coração do faraó?
Ai é que tá, não foi.
Deus é Senhor soberano de tudo, o criador. Óbvio que tudo que acontece está dentro de sua vontade ou permissão. Deus optou por dar liberdade ao homem, logo, ele é responsável pela consequência das atitudes do homem. Assim, se alguém resolve usar seu livre-arbítrio para assassinar alguém, Deus é culpado pelo assassinato, pois foi ele quem deu o livre-arbítrio. Ou seja, Deus poderia evitar esse assassinato, poderia anular o livre-arbítrio, mas não faz, pois a liberdade humana é total.
Vemos isso na história de Jó, pois o diabo faz o mal a Jó com a permissão de Deus (Jó Cap.1 e 2), não foi Deus quem fez o mal. Porém no cap. 42 do livro de Jó, o texto diz que foi ele quem fez o mal.
Deus, na verdade, apenas assume a responsabilidade acerca do mal que outros fazem.
Pragas do Egito
Deus poderia ter “amolecido” o coração do faraó, poderia ter mudado a natureza dele, mas isso anularia a personalidade do faraó, tiraria sua liberdade de ser quem quisesse ser. Deus, então, permitiu que o coração do faraó fosse duro, por isso ele diz: “Eu endureci o coração do faraó”. A maldade e teimosia fazia parte da natureza do faraó, era algo dele mesmo, não foi Deus quem o tornou daquele jeito. Nesse episódio, Deus não foi cruel ou injusto, mas agiu conforme as características do próprio povo egípcio, não podia ser de outro jeito.
Mas, de qualquer modo, pessoas morreram e foi Deus quem matou. Mas um de seus mandamentos diz: não matarás. Não é?
4. Mandamentos e princípios
A Bíblia contém mandamentos ou princípios?
Qual a diferença entre um e outro?
Mandamentos referem-se a normas que não podem ser quebradas.
Princípios referem-se a conceitos que servem como guias à moral e à ética, são aplicados conforme às situações e ao bom senso das pessoas.
Assim como uma mãe que ama seus filhos impõe-lhes regras para protegê-los, exemplo: não mexer com faca, não colocar o dedo na tomada e etc., no Antigo Testamento, os mandamentos também tinham esse objetivo, que era proteger o povo, pois Deus os amava.
Entretanto, quando uma pessoa cresce e se torna adulta, então as proibições da infância perdem o sentido, pois se antes não podia mexer com faca, ao tornar-se adulto, pode ser açougueiro e manusear facas; se antes não podia mexer na tomada, como adulto pode ser eletricista e etc.
Os perigos ainda existem, a faca ainda é perigosa, assim como a eletricidade, mas um adulto sabe o que fazer. Por isso, para um adulto, não há mais proibições, apenas medidas de segurança (princípios).
O Antigo Testamento e o Novo Testamento contêm na verdade princípios, mas apenas um mandamento: o amor. Pois quem ama o próximo, então não irá roubá-lo, matá-lo, explorá-lo e etc. Mas no Antigo Testamento, tendo em vista a menor compreensão por parte do povo, então, os princípios foram aplicados como leis. Os profetas e alguns reis compreendiam a limitação da Lei, mas o povo não.
Observe o que diz o apóstolo Paulo em Gálatas 2.16: “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.”.
Deus sempre age a partir da natureza e limitações humanas, por isso, as mortes no Antigo Testamento não poderiam ser evitadas, mas a paz plena em amor, sempre foi o objetivo inicial de Deus, pois essa é a mensagem de Cristo e também é a mensagem que seus mensageiros (os verdadeiros) de hoje transmitem.
Não matarás é um princípio, pois não devemos matar, mas ao corrermos risco de morte, a autodefesa pode levar nosso agressor ao óbito. Assim, o núcleo desse princípio é que a morte nunca é o objetivo, mas pode tornar-se uma consequência necessária quando nossa vida ou de alguém querido estiver em risco, por exemplo.
Mas ainda permanece uma dúvida: havendo paz, a evolução biológica humana é interrompida? Ou seja, não haverá mais seleção natural para a espécie humana?
5. Evolução espiritual
Todas as guerras no tempo antigo tinham a seleção natural como uma consequência esperada (mesmo que eles próprios não tivessem consciência disso). O objetivo da Bíblia ao mostrar as guerras é apenas provar isso e deixar claro que Deus não se opõe, pois foi necessário NAQUELES tempos.
Conforme dito anteriormente, a civilização estava começando, não é? Assim, a barbárie foi inevitável em um mundo primitivo (assim como é no mundo animal), mas com o desenvolvimento da civilização, tudo muda, pois a civilização também é uma forma de evolução.
Ética e moralidade fazem parte de qualquer cultura humana, pois são conceitos puramente lógicos, pois, (independentemente da cultura) ninguém quer morrer assassinado, logo, matar é proibido; ninguém quer ter seus bens roubados, logo, roubar é proibido e assim sucessivamente. Os primeiros humanos estabeleceram a importância da ética e da moralidade para que a civilização firmasse suas bases e evoluísse. Essa ética é muito semelhante às Leis de Moisés (nem poderiam ser diferentes, pois são conceitos lógicos), pois essas Leis também visavam estabelecer os princípios de civilidade ao povo judeu para garantir a sobrevivência deles, porém, no caso do povo judeu, também visavam outra coisa: estabelecer as bases para a mensagem de Deus que se completaria com Jesus Cristo.
Assim, a partir da lei de Deus ou da ética humana, concluímos que em um mundo totalmente civilizado, guerras são desnecessárias.
Mas quando acabam as guerras, a Seleção Natural termina?
Parcialmente.
Acaba a evolução?
Não.
A evolução que Deus concede e espera da humanidade, hoje em dia, é espiritual.
Para um povo primitivo, aplicam-se normas simples e primitivas, mas para um povo evoluído, então, tudo muda.
Jamais podemos cobrar de um adulto o que é exigido de uma criança, além disso, nós humanos não pretendemos mais continuar semelhantes a um bicho, pois somos civilizados. Um povo civilizado possui valores morais e éticos e mais do que isso, possui sentimentos evoluídos e definidos também.
É difícil para um ser primitivo deixar de pensar em si apenas ou em seus desejos de forma exclusiva, mas uma pessoa evoluída consegue isso e ainda pode pensar no bem estar de seu semelhante, pois seu “mundinho” não está apenas ao redor de seu próprio umbigo, mas sua percepção é bem mais ampla. (por isso que os conceitos de Jesus são complexos, pois necessitam de uma ampla visão para ser compreendidos, uma visão muito além de nós mesmos).
Graças a valores éticos e morais evoluídos que é possível a evolução e expansão de sentimentos como: amor, compaixão, misericórdia e etc. Graças a esses sentimentos é que a evolução humana passou a tomar outro rumo.
No Antigo Testamento, Deus mostrou a evolução humana a partir do ponto de vista natural.
No Novo Testamento, porém, o ponto de vista é outro, é o ponto de vista espiritual e é esse o último passo evolutivo a ser dado pela humanidade.
Graças a sentimentos evoluídos como amor e compaixão humana, aliados a recursos tecnológicos e sociais de hoje, podemos ver que quando uma pessoa nasce cega, ela não é descartada, mas sobrevive; se nasce com alguma outra deficiência física ou alguma deficiência mental, idem (em tempos passados seriam descartados). Se todos sobrevivem, então a Seleção Natural é eliminada totalmente, pois todos os tipos de genes são transmitidos às gerações seguintes.
Isso é ruim? Não, não é, pois, como seres evoluídos, nossa consciência vai além da existência natural.
Deus nos fez à imagem e semelhança dele, sendo Deus espírito (não possui e não necessita de corpo), então essa semelhança é espiritual e não física, assim, Deus nos concedeu uma existência espiritual também, mas manteve nossa existência natural herdada de nossos ancestrais primatas. Assim, nós temos duas naturezas: uma natural e outra espiritual. É isso que nos torna humanos (se leu os links com informação adicional no decorrer do texto até aqui, então creio que isso ficou bem claro).
Quando Deus nos fez “alma vivente”, ele interferiu em nossa estrutura física. Essa interferência acelerou nossa evolução biológica. Já reparou a enorme diferença entre o homem e os demais animais? Dizem que o animal mais inteligente, evoluído e mais próximo geneticamente de nós é o chimpanzé, ele inclusive tem pouco mais de 90% de nossos genes, entretanto, ainda habita árvores na selva, o homem, porém, já caminhou sobre a lua.
A diferença é absurda.
Estamos no ápice, no topo.
Mas se nossa natureza física foi “turbinada”, e nossa natureza espiritual?
É por isso que existe a Bíblia, também.
Através das regras morais e éticas, o desenvolvimento da civilização é garantido e, por consequência, o desenvolvimento da razão e a expansão da cosmovisão humana são garantidos também, pois ao amar o próximo, o mundo amplia-se, pois deixa de girar apenas ao nosso redor. Nossa percepção da realidade amplia-se grandemente quando não está centralizada apenas em nós. É essa amplitude da mente humana que nos permite ver a Deus e entendê-lo. É essa amplitude que nos permite compreender o que Deus quis dizer com o fruto proibido (leia aqui, por favor), é aí que entendemos a dimensão de nossa liberdade e o modo de alcançar a evolução espiritual, é assim que poderemos entender a mensagem de Cristo, também. A diferença entre Seleção Natural e o nosso próximo passo evolutivo é que este último passo é voluntário.
Não somos mais animais, não somos mais crianças, então não precisamos mais de regras ou de um sistema evolutivo arbitrário, mas temos condições de decidirmos para onde queremos ir ou se permanecemos onde estamos.
O que é o céu? É o lugar dos bonzinhos?
Não é esse o critério que Deus exige para o céu.
Observe aqui e veja que a maturidade formada através da pureza é que nos deixa em condições plenas de decidir conscientemente.
Mas qual o resultado final dessa evolução espiritual?
Observe o que diz o Salmo 82 no Antigo Testamento:
“1 Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento.
2 Até quando julgareis injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios?
3 Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado.
4 Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.
5 Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas; vacilam todos os fundamentos da terra.
6 Eu disse: SOIS DEUSES, SOIS TODOS FILHOS DO ALTÍSSIMO.
7 Todavia, como homens, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de sucumbir.
8 Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois a ti compete a herança de todas as nações.”
Observe o comentário que Jesus Cristo fez acerca do versículo 6 desse Salmo em João 10.30-35:
“Eu e o Pai somos um.
Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar.
Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai; por qual delas me apedrejais?
Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois DEUSES?
Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar (...).”
Esse é o resultado do último passo evolutivo. Mas não é o último passo da humanidade, mas de cada pessoa INDIVIDUALMENTE, pois é um ato voluntário.
Mas, essa evolução espiritual pode transformar o homem em um deus igual a Deus?
Não, não é isso. Refere-se a algo fora da nossa capacidade de compreensão.
Imagine um físico nuclear tentando explicar física quântica ao seu filho de quatro anos, é óbvio que omitirá inúmeros detalhes sobre essa ciência, simplificará absurdamente o conceito. É óbvio ainda que, mesmo assim, o garotinho terá dificuldades em imaginar tal conceito na prática.
O mesmo se aplica a céu e inferno. Esses “lugares” estão fora de nossa realidade conhecida, não há referências em nosso mundo para guiar-nos em nossa compreensão. É por isso que a Bíblia nunca faz uma descrição precisa desses conceitos, pois nos foge a capacidade de entendê-los, apenas nos informa que existem.
Mas uma coisa é certa, Jesus disse: “sois deuses.”